Cuidado: aqui na minha casa, se você for uma banana e começar a ficar meio passada, FUJA! Senão vira bolo, vitamina, pão… Ou então, Manezinho Araújo.
Sempre achei o nome desse doce muito curioso. Desde criança, sempre fiquei imaginando quem era o Manezinho Araújo, que inventou essa sobremesa de bananas com creme e suspiro (veja a receita original aqui). Ninguém soube me responder, e olha que minha mãe, minha avó e todas as minhas tias faziam sempre a receita. Ninguém fazia a menor idéia de quem era esse tal Manezinho.
O Google facilita para nós:
Manuel Pereira de Araújo, conhecido como Manezinho Araújo, (Cabo de Santo Agostinho, 27 de setembro de 1913 — 23 de maio de 1993) foi um cantor, compositor, jornalista e pintor brasileiro. Autor do sucesso “Dezessete e Setecentos”, música que ficou mais conhecida na voz de Luiz Gonzaga.
E o doce? Ah, dizem que foi ele quem inventou, por gostar muito de bananas.
Mas quem reinventou o Manezinho Araújo em forma de torta foi minha tia Cida, que é tão legal, mas tão legal, que até deixava eu pintar as unhas dela com esmalte de verdade.
Torta Manezinho Araújo (Rende duas tortinhas pequenas, de 12cm, ou uma maior, de 25cm.)
Pâte Brisée (adaptado daqui)
- 100g de manteiga bem gelada, cortada em cubinhos
- 1 1/4 xícaras de farinha de trigo
- 1 colher de café de sal
- 1 colher de chá de açúcar
- 3 colheres de sopa de água super gelada (ou um tiquinho a mais, se necessário)
Primeiro de tudo: corte a manteiga e deixe no freezer enquanto prepara o restante dos ingredientes.
Coloque no processador a farinha, o sal e o açúcar. Pulse para misturar. Coloque a manteiga, tampe e pulse em intervalos curtos, umas 4 vezes, até a mistura parecer uma farofa grossa, como farinha de milho (os pedaços de manteiga na farinha vão estar do tamanho de ervilhas, não tem problema se tiver alguns pedaços maiores e outros menores).
Deixe a água a postos. Com o processador funcionando na velocidade mais baixa, já adicionando a água pela abertura da tampa até a massa “juntar”, mas sem ficar grudenta nem úmida. Na verdade, ela vai estar meio seca, e é assim mesmo (dica da Martha Stewart: teste apertando um bocado da massa na mão: se estiver ainda muito esfarelenta, ponha um pouquinho mais de água gelada). Não processe por mais de 30 segundos. Divida em duas partes (se for fazer duas tortinhas) e coloque cada metade sobre um pedaço de papel filme. Embrulhe no plástico, apertando para juntar as migalhas soltas e formando um disco, mas sem trabalhar a massa (não queremos derreter a manteiga que deu tanto trabalho para ficar em pedacinhos e vai deixar a massa bem crocante).
Guarde na geladeira por pelo menos 1 hora, ou até 2 dias. Depois desse descanso, abra a massa com um rolo até ficar com aprox. 0,5 cm de espessura. Forre duas formas para torta de 12 cm, ou uma maior, de 25cm. Corte as beiradas da massa e arrume bem bonitinho (a Martha ensina todos os truques aqui). Coloque no freezer enquanto preaquece o forno a 200 graus, uns 15 minutos .
Fure o fundo da massa com um garfo. Forre com papel manteiga e coloque uma boa quantidade de feijão cru, arroz, cru, grão de bico cru, o que tiver em casa. Assim a massa não infla. Leve ao forno por uns 15 minutos. Retire o papel manteiga com os feijões e volte ao forno até ficar dourado. Deixe esfriar para rechear.
Crème Pâtissière
- 1 xicara de leite
- 2 gemas
- 1/4 xícara de açúcar
- 1 colher sopa maizena
- gotinhas de baunilha
Numa panela pequena, coloque o leite para ferver. Enquanto isso, bata as gemas com o açúcar até ficar bem branquinho (eu bati à mão, com fouet). Misture a maizena e bata mais um pouco. Retire o leite do fogo e coloque um pouco dele, quente mesmo, na mistura de gemas, misturando bem. Passe essa mistura de gemas para a panela com o restante do leite, volte ao fogo e cozinhe, mexendo sempre, em fogo baixo. Depois que engrossar, cozinhe por mais uns dois minutos, mexendo sem parar. Retire do fogo, junte a baunilha e coloque num recipiente de vidro, com plástico filme encostando na superfície do creme para não formar película. Deixe esfriar.
Doce de Banana
- 4 bananas bem maduras
- 1/2 xícara de açucar
- 1 colher de sopa de manteiga
- 1/4 xícara de água
Corte as bananas em rodelas. Coloque o açúcar numa panela média antiaderente. Leve ao fogo alto e deixe o açúcar derreter até ficar com uma cor de caramelo não muito escuro. Como diria Gordon Ramsey, “black is burnt” (se está preto está queimado), e açúcar continua cozinhando mesmo se a gente tirar do fogo. Quando tiver com aquela corzinha boa de bala de leite Kid’s, junte a manteiga, as bananas e vá pingando a água aos poucos, virando a panela. Vai espirrar tudo, o caramelo vai ficar duro e você vai pensar que vai tudo terminar no lixo. Abaixe o fogo e tenha paciência, não fique cutucando as bananas e você vai terminar isso tudo com uma linda calda com bananinhas douradas. Está pronto quando caramelo tiver virado calda, tipo uns 5 minutos. Espere esfriar para utilizar na torta.
Suspiro
- 2 claras
- 1/3 xícara açúcar
Leve as claras com o açúcar ao banho-maria, mexendo sempre, até aquecer e dissolver o açúcar. Bata na batedeira até esfriar e formar um merengue brilhante e com picos firmes.
Montagem:
Na massa de torta assada, coloque uma camada de creme, uma de doce de bananas e cubra com o suspiro. Leve ao forno bem fraquinho até dourar e secar um pouco merengue. Espere esfriar e sirva!
UPDATE: A Zezé Pina, do blog Panela da Zezé (que está linkado no começo deste post), completa a informação sobre a criação do Manezinho Araújo:
Só para por mais umas pitadinhas na história do doce, ele foi inventado pelo Manezinho na década de 60 quando era proprietário do restaurante O Cabeça Chata no Rio de Janeiro, um dos primeiros restaurantes nordestinos na então Capital Federal do País.
Obrigada, Zezé!